Neurofeedback

Em 1924, Hans Berger construiu o primeiro aparelho de eletroencefalografia (EEG) - um dispositivo que permite o registro gráfico da atividade elétrica do cérebro medida no couro cabeludo. Nosso cérebro produz vários tipos de ondas, o tempo todo, mas, dependendo da atividade que estamos executando, alguns tipos de ondas cerebrais predominam naquele momento. Ondas curtas e rápidas geralmente estão associadas à estados cognitivos de atenção e concentração, enquanto ondas longas e lentas significam estados de descontração, devaneio ou sono. Realizando medições no próprio filho, Berger observou alterações rítmicas no potencial da frequência de 10 Hz. Esta atividade, predominante no estado de relaxamento, ficou conhecida como ondas Alfa (8-14 Hz).
Investigação posterior levou à distinção de outros tipos de ondas da atividade cerebral, relacionadas com determinados estados de consciência, todas elas categorizadas pelas letras gregas:
- as ondas Delta (0,5 a 4 Hz) - que aparecem no sono mais profundo;
- as ondas Teta (4 a 8 Hz) - que predominam principalmente no sono mas também, e particularmente, durante visualizações da realidade, por exemplo;
- as ondas Beta (14 a 19 Hz) - que surgem normalmente nas pessoas adultas durante as atividades diárias.

Existem duas outras categorias de freqüências, mais rápidas, que vale citar: High Beta, na faixa de 19 Hz a 38 Hz, ainda dentro da faixa global de Beta, e Gama, acima de 38 Hz. Vale ressaltar que essas seis categorias de freqüências cerebrais representam os diversos níveis de processamento da informação e estabelecem o tipo de comunicação de um neurônio com outro ou com outros, haja vista que um único neurônio pode estar conectado, ou seja, fazer sinapse, com até outros dez mil neurônios no córtex, o que proporciona a conexão com mais de dez trilhões de células nervosas em uma única pessoa. Quando o cérebro sofre algum tipo de lesão ou avaria, suas ondas elétricas se alteram, criando padrões rítmicos anormais que interferem na maneira como trafegam as informações no cérebro.

Segundo Mascaro (2012), quando a atividade elétrica do cérebro diminui ou aumenta indevidamente, ocorre perda efetiva de informação ou de sua habilidade em orquestrar de maneira harmoniosa o nosso funcionamento, o que acarreta a um empobrecimento da performance de partes específicas do cérebro, resultando em comprometimentos funcionais, como por exemplo: distúrbios da personalidade e do comportamento social, dislexia, TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), depressão, ansiedade, ataques de pânico e enxaquecas dentre outras patologias. O problema maior é que em decorrência do elevado nível de plasticidade e adaptabilidade do cérebro, ele encontra aconchego em um funcionamento patológico, ficando adstrito a ele em virtude da repetição dos padrões neurológicos distorcidos, uma vez que a fisiologia cerebral foi alterada, carecendo da redução ou eliminação desses padrões, através do neurofeedback (processo não invasivo de terapia neurológica que ocorre pelo treinamento das freqüências cerebrais).

Em 1958, Joe Kamiya examinou na Universidade de Chicago, se possuímos a capacidade de diferenciar subjetivamente os tipos de ondas geridas pelo próprio cérebro. Uma pessoa examinada com o eletroencefalógrafo foi treinada para responder ao acaso se estava no estado Alfa, tendo inicialmente nivelado os erros e acertos, todavia, o número de respostas corretas aumentou com a seqüência de treinamentos e as informações a elas referentes. Após quatro dias de prática, todas respostas foram corretas, além disso, o examinado foi capaz de atingir o estado Alfa a pedido. Kamiya elaborou logo uma versão aperfeiçoada do aparelho, transmitindo automaticamente o sinal de feedback em forma de som nos momentos de prevalência das ondas Alfa. Construiu-se então uma versão aperfeiçoada do aparelho, transmitindo automaticamente o sinal de feedback sob a forma de som nos momentos de prevalência das ondas alfa. A partir desse momento, constatou-se ser possível aprender a controlar, conscientemente, um modo de funcionamento geral do cérebro, o estado de consciência, bem como a qualidade de funcionamento da mente, originando-se assim o Neurofeedback.

Em 1971, o psicólogo e pesquisador Barry Sterman iniciou a aplicação terapêutica de neurofeedback, através estudos efetuados inicialmente em gatos, na Universidade da Califórnia (UCLA), verificou que era possível “treinar” e condicionar o padrão de ondas cerebrais, no intuito de controlar a epilepsia, aumentando a atividade das ondas alfa para aumentar a relaxação. O treino que aumentava o nível das assim chamadas ondas SMR revelou ser possível reduzir a frequência de ataques epilépticos em humanos, posteriormente obteve resultados mais fantásticos que os obtidos com ação medicamentosa ou com psicoterapia clássica. Nas décadas seguintes, começou-se a aplicar o método a outras disfunções, como por exemplo: ansiedade, vícios, enxaqueca, depressão e estresse. Neurofeedback, consequentemente, nada mais é que um processo de estimulação das capacidades naturais de desenvolvimento e readaptação do cérebro, objetivando otimizar, ou modificar comportamentos desadaptados, ou melhor, é o treinamento dos neurônios, de determinadas regiões e/ou estruturas cerebrais, através fornecimento de feedback, isto é, de sinalização quanto à adequação ou inadequação de sua atividade em curso, sendo denominado de treinamento neurológico.

Inobstante a imensa possibilidade de utilização do neurofeedback, mais amplo é o biofeedback (é como se fosse o gênero do qual o neurofeedback é a espécie), ele é um procedimento de treino comportamental considerado - o tratamento do século XXI, e cuja técnica vem sendo empregada com sucesso, no tratamento das patologias mais comuns da modernidade, como estresse, ansiedade, dores de cabeça, distúrbio do sono, crise do pânico, TDAH, hipertensão, alcoolismo e abuso de drogas, além de ser eficaz também no tratamento da artrite, dor crônica, epilepsia, encoprese, memória senil, reabilitação cognitiva (traumas) e incontinência urinária. Os métodos do biofeedback utilizam a realimentação de vários sinais fisiológicos, como por exemplo, a atividade elétrica dos músculos (EMG), a tensão da bexiga, a atividade elétrica da pele (EDA/GSR) e a temperatura do corpo. Estes métodos são aplicados no tratamento ou na melhoria das funções orgânicas, manifestadas através destes sinais.

O Neurofeedback EEG está entre os métodos mais sofisticados do biofeedback. Utilizando sinais provenientes diretamente do Sistema Nervoso Central, ele tem uma esfera de influência mais ampla. Permite também captar certos indicadores de atividades psíquicas de nível superior. O Biofeedback ensina a mente a controlar o corpo e possibilita à pessoa regular conscientemente as reações fisiológicas e emocionais, através de um software com eletrodos que são ligados a diferentes partes do corpo. Essa técnica monitora o batimento cardíaco, a atividade cerebral, a tensão muscular, o fluxo sanguíneo, entre outras funções reguladas pelo Sistema Nervoso Central. Finalmente, tem sido desenvolvida uma nova área que corresponde à aplicação não-terapêutica de neurofeedback, objetivando aquisição de alto desempenho, com vista a desenvolver o potencial da mente e ampliar o nível de tranqüilidade e bem estar. Simplificadamente podemos dizer também que o termo Biofeedback corresponde às técnicas de tratamento, através das quais as pessoas são treinadas a melhorar sua capacidade de auto-regulação, utilizando os sinais do próprio corpo. Os softwares do Biofeedback trazem imagens e figuras de fácil interpretação, além de recursos sofisticados como capacetes com sensores de monitoramento cerebral do tipo utlizado no neurofeedback, e óculos especiais que simulam situações nos três eixos espaciais.

As pesquisas e conseqüentes descobertas acerca da capacidade de controle voluntário de processos pertencentes ao Sistema Nervoso Autônomo, são frutos da aproximação da biologia com a psicologia e resultaram numa nova teoria da aprendizagem, com princípios e métodos derivados da psicofisiologia aplicada, por sua vez, o neurofeedback surgiu da associação da neurologia, fisiologia e da psicologia experimental. Vale ressaltar que embora estejamos falando de energia elétrica, o equipamento utilizado em Neurofeedback e/ou Biofeedback (hardware e software) é totalmente seguro, não produz nem emite radiação elétrica ou magnética, bem como inocorre risco de choque. Trata-se, portanto, de um procedimento confortável, indolor e não invasivo, existindo alguns softwares de caráter lúdico. Quando da sua aplicação, utilizam-se dispositivos computadorizados que se conectam a sensores, que por sua vez aderem a superfície do couro cabeludo, sendo a atividade elétrica do córtex cerebral traduzida em ondas, que são captadas, amplificadas, filtradas e transformadas em sinais digitais, possibilitando a visualização em tempo real de certos processos mentais. Segundo a psicóloga Cacilda Amorim do Instituto Paulista de Déficit de Atenção, especialistas que trabalham com biofeedback, apostam na sofisticação tecnológica como aliada no controle do estresse e no tratamento da ansiedade, hipertensão, insônia, déficit de atenção e até na recuperação de pessoas que sofreram um AVC (Acidente Vascular Cerebral), que os pacientes são levados a um desafio: apenas olhando para a tela do computador, deverão controlar um programa, bem parecido com um game. Enquanto as ondas cerebrais estiverem dentro dos padrões estabelecidos, por exemplo, o paciente marca pontos e pode pilotar um avião ou fazer strike, como em um jogo de boliche, todavia, ganhar ou se divertir não é o objetivo, mas uma atividade que ajuda o paciente a melhor vivenciar o decurso do tempo.

Áreas de saúde que se utilizam do neurofeedback e/ou biofeedback:

- Psicologia: tratamento do estresse, ansiedade, distúrbio de déficit de atenção, transtorno do pânico, insônia, doenças psicossomáticas; treinamento de relaxamento e de aumento de performance (para atletas e executivos).

- Neurologia: recuperação pós-TCE (traumatismo crânio-encefálico), AVC (Acidente Vascular Cerebral); tratamento da enxaqueca, da cefaléia de tensão e de disfunções neuro-musculares.

- Cardiologia: tratamento da hipertensão essencial e treinamento da variabilidade da frequência cardíaca.

- Fisioterapia: tratamento da incontinência fecal e urinária, dor patelo-femural, pós-operatório do joelho, dor em membro fantasma e dor crônica das costas.

- Odontologia: tratamento do bruxismo (hábito de ranger os dentes), de nevralgia do trigêmeo e de distúrbios da Articulação Temporo-Mandibular (ATM).

Bibliografia:
MASCARO, Leonardo. A Arquitetura do Eu: psicoterapia, meditação e treinos para o cérebro.Rio de Janeiro: Editora Elsevier,2008.
Mascaro, Leonardo. Para que medicação? Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2012.
Apostila Curso INBIO - Luciana Campaner - Ribeirão Preto
Apostila Curso Biofeedback - Armando R das Neves - São Paulo

Neuropsicólogo Pedro Freitas Neto

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Psicanálise, Hipnoterapia, Neuropsicologia, Neurofeedback, Brainspotting, Terapia EMDR

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